O problema é que onde eu moro não tem ambulância, por isso vinha de ônibus. Eram três horas de viagem até o hospital, às vezes fazia diálise só por duas horas (o ideal seriam quatro) porque precisava voltar pra rodoviária.
Agora tenho uma vida normal, posso sair e sou muito mais disposto pra tudo. Queria conhecer as famílias que me ajudaram, mas é muito difícil. Gostaria que eles soubessem que graças a Deus e a esse ato de superação, hoje eu estou bem."
Wilson de Moura - recebeu um rim há quatro anos.
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Quando aconteceu foi um choque pra gente, mas eu nem esperei a comissão vir fazer a abordagem, quando constataram a morte cerebral eu fui até os médicos e avisei que meu irmão era doador. Nem perguntei ao meu pai e minha mãe, sabia que esta era a sua vontade e que se começássemos a ponderar acabaríamos vacilando, porque o maior medo que os familiares têm é de que o paciente não esteja realmente morto. É muito difícil tu ver o corpo corado, quente, com o coração pulsando e ter de se convencer que a pessoa não está mais lá.
O sentimento que fica é o de ter ajudado alguém, é confortante saber que existem pessoas que foram salvas pelo meu irmão, ele ajudou oito pessoas e eu sei que onde estiver, com certeza está feliz."
Maria Eliane Savegnago - Enfermeira - doou os órgãos do irmão.
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Pra mim foi muito difícil porque eu tive que mudar os meus hábitos, passei a ter muitas limitações, principalmente, profissionais, já que eu trabalhava com esportes. Em 1988, eu tive a primeira parada cardíaca, a partir daí, a doença evoluiu e tive que ir pra Porto Alegre, mas ainda não estava na fila de espera pelo coração porque os médicos queriam tentar alguns poucos procedimentos que talvez pudessem salvar a minha vida Porém, a doença continuou evoluindo até que eu tive a segunda parada cardíaca e fui obrigado a entrar na fila e esperar por um coração. Isso aconteceu em maio de 1989 e, como eu era um paciente de risco, em quinze dias recebi o órgão. Hoje estou com 52 e dois anos e voltei a desenvolver minhas atividades normalmente."
João Carlos Cechela - 52 anos - recebeu um coração há 16 anos.
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Ainda falta esclarecimento sobre a doação, principalmente, em relação à morte cerebral. Há muita dúvida também quanto ao procedimento de retirada de órgãos. Eu mesmo já fui questionado sobre isso, há pessoas que não sabem que o coração ainda deve estar em atividade e que pensam que os médicos aplicam injeções letais para fazer com que o coração pare. Alguns têm um pensamento totalmente diferente do que realmente acontece. Para haver maior quantidade de doações, tem que haver um esclarecimento completo sobre todo o procedimento. Falta conhecimento por parte das pessoas.
Outra coisa que atrapalha é que a maioria das pessoas não tem conhecimento das limitações pelas quais nós, que esperamos por um transplante, passamos. Como por exemplo, as viagens. No meu caso, os meus familiares moram a uma distância muito grande de Santa Maria, aproximadamente 300 quilômetros, e eu não tenho como visitá-los. Minha mãe é viva e eu não posso vê-la. Não é possível eu fazer uma viagem dessas, pois preciso de três sessões semanais de hemodiálise.
O fato de ter que fazer hemodiálise durante quatro horas, três vezes por semana, limita o horário para trabalhar e reduz drasticamente a chance de conseguir um vínculo empregatício. Eu tenho condições físicas para trabalhar, mas tive que desistir. Recebo uma aposentadoria por invalidez, o que reduz bastante os meus ganhos.
Essas são coisas que as pessoas têm que conhecer. Elas não pensam sobre esse assunto se não têm alguém na família ou um amigo que espera por um transplante.
Apesar da dor da perda, a doação é uma forma que a família tem de possibilitar que alguns órgãos dessa pessoa continuem vivos. Nós que dependemos de um óbito, de uma morte cerebral, não queremos que as pessoas morram, mas sabemos que se isso ocorre, os familiares têm mais é que permitir a doação. Até porque, o paciente que sofreu um acidente pode voltar a ter uma vida normal e o transplantado sempre vai depender de tratamento médico.
Dificilmente, quando se conscientiza a família de que se quer ser doador ela irá se recusar a fazer a doação. Até mesmo em respeito à vontade da pessoa. Mesmo que não seja um assunto sobre o qual as pessoas falam, cada um de nós deve falar para a família sobre sua vontade. Não adiante existir lei, se é a vontade da família que tem de ser respeitada. Por isso, deve haver conscientização.
Não se pode concordar com o que não se conhece, o esclarecimento é a base de tudo."
Darci José Trevisan - 59 anos - espera por um transplante há mais de seis anos